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Infantil, 1976 | Posfácio de Tatiana Belinky e João Jorge Amado
O
temperamento do gato malhado não era dos melhores. Sua fama de
encrenqueiro era tanta que, quando ele aparecia no parque, todos fugiam:
a galinha carijó, o reverendo papagaio, o pato negro, a pata branca,
mamãe sabiá, os pombos, os cães. Até as flores se fechavam à sua
passagem. Ao descobrir que todos os bichos tinham medo dele, o gato fica
arrasado. Mas logo retoma sua indiferença habitual, pois não se importa
com os outros.
O que ele não sabia é que havia alguém que não tinha nem um pouco de medo dele: a andorinha Sinhá. Num dia de primavera, o gato percebe que ela foi a única que não fugiu quando ele apareceu. A andorinha justifica sua coragem: ela voa, ele não. Desde aquele dia a amizade entre os dois se aprofunda, e no outono os bichos já vêem o gato com outros olhos, achando que talvez ele não seja tão ruim e perigoso, uma vez que passara toda a primavera e o verão sem aprontar.
Durante esse tempo, até soneto o gato escreveu. E confessou à andorinha: “Se eu não fosse um gato, te pediria para casares comigo…”. Mas o amor entre os dois é proibido, não só porque o gato é visto com desconfiança, mas também porque a andorinha está prometida ao rouxinol.
Com grande lirismo, a história do amor de um gato mau por uma adorável andorinha assume aqui o tom fabular dos contos infanto-juvenis. Além de se transformar em um improvável caso de paixão, a narrativa mostra como duas criaturas bem diferentes podem não apenas conviver em paz como mudar a maneira de ver o mundo.
O que ele não sabia é que havia alguém que não tinha nem um pouco de medo dele: a andorinha Sinhá. Num dia de primavera, o gato percebe que ela foi a única que não fugiu quando ele apareceu. A andorinha justifica sua coragem: ela voa, ele não. Desde aquele dia a amizade entre os dois se aprofunda, e no outono os bichos já vêem o gato com outros olhos, achando que talvez ele não seja tão ruim e perigoso, uma vez que passara toda a primavera e o verão sem aprontar.
Durante esse tempo, até soneto o gato escreveu. E confessou à andorinha: “Se eu não fosse um gato, te pediria para casares comigo…”. Mas o amor entre os dois é proibido, não só porque o gato é visto com desconfiança, mas também porque a andorinha está prometida ao rouxinol.
Com grande lirismo, a história do amor de um gato mau por uma adorável andorinha assume aqui o tom fabular dos contos infanto-juvenis. Além de se transformar em um improvável caso de paixão, a narrativa mostra como duas criaturas bem diferentes podem não apenas conviver em paz como mudar a maneira de ver o mundo.
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Jorge Amado escreveu O gato malhado e a andorinha Sinhá
em 1948, em Paris. Não era uma história para ser publicada em livro,
mas um presente para o filho, João Jorge, que completava um ano de
idade. Guardado entre as coisas do menino, o texto só foi reencontrado
em 1976.
João Jorge entregou a narrativa a Carybé, e o artista ilustrou as páginas datilografadas. Jorge Amado deu-se por vencido: “Diante do que não tive mais condições para recusar-me à publicação por tantos reclamada: se o texto não paga a pena, em troca não tem preço que possa pagar as aquarelas de Carybé”.
O livro foi publicado no mesmo ano, sem alterações do original escrito quase trinta anos antes. “Se fosse bulir nele, teria de reestruturá-lo por completo, fazendo-o perder sua única qualidade: a de ter sido escrito simplesmente pelo prazer de escrevê-lo, sem nenhuma obrigação de público e de editor”, destacou Jorge Amado.
A história é inspirada na tradição popular das narrativas orais. Jorge Amado colheu o tema de uma trova do poeta Estêvão da Escuna, que a costumava recitar no Mercado das Sete Portas, em Salvador. O texto foi adaptado mais tarde para teatro e balé.
João Jorge entregou a narrativa a Carybé, e o artista ilustrou as páginas datilografadas. Jorge Amado deu-se por vencido: “Diante do que não tive mais condições para recusar-me à publicação por tantos reclamada: se o texto não paga a pena, em troca não tem preço que possa pagar as aquarelas de Carybé”.
O livro foi publicado no mesmo ano, sem alterações do original escrito quase trinta anos antes. “Se fosse bulir nele, teria de reestruturá-lo por completo, fazendo-o perder sua única qualidade: a de ter sido escrito simplesmente pelo prazer de escrevê-lo, sem nenhuma obrigação de público e de editor”, destacou Jorge Amado.
A história é inspirada na tradição popular das narrativas orais. Jorge Amado colheu o tema de uma trova do poeta Estêvão da Escuna, que a costumava recitar no Mercado das Sete Portas, em Salvador. O texto foi adaptado mais tarde para teatro e balé.
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A
história de amor do gato malhado e da andorinha Sinhá eu a escrevi em
1948, em Paris, onde então residia com minha mulher e meu filho João
Jorge, quando este completou um ano de idade, presente de aniversário;
para que um dia ele a lesse. Colocado junto aos pertences da criança, o
texto se perdeu e somente em 1976 João, bulindo em velhos guardados, o
reencontrou, dele tomando finalmente conhecimento.
Nunca pensei em publicá-lo. Mas tendo sido dado a ler a Carybé por João Jorge, o mestre baiano, por gosto e amizade, sobre as páginas datilografadas desenhou as mais belas ilustrações, tão belas que todos as desejam admirar. Diante do quê, não tive mais condições para recusar-me à publicação por tantos reclamada: se o texto não paga a pena, em troca não tem preço que possa pagar as aquarelas de Carybé.
Londres, agosto de 1976
J. A.
Ao concordar, em agosto de 1976, com a publicação desta velha fábula, ao nome de meu filho João Jorge, a melhor pessoa que eu conheço, quero acrescentar nesta página de dedicatória os de meu afilhado Nicolas Bay, dito Nikili e Niki, tão belo quanto inteligente, e os dos meus netos Bruno, Mariana, Maria João Pinóquio Leão e Cecília, que não a podem ainda ler e por isso mesmo; como não a podia ler João quando eu a escrevi.
Nunca pensei em publicá-lo. Mas tendo sido dado a ler a Carybé por João Jorge, o mestre baiano, por gosto e amizade, sobre as páginas datilografadas desenhou as mais belas ilustrações, tão belas que todos as desejam admirar. Diante do quê, não tive mais condições para recusar-me à publicação por tantos reclamada: se o texto não paga a pena, em troca não tem preço que possa pagar as aquarelas de Carybé.
Londres, agosto de 1976
J. A.
Ao concordar, em agosto de 1976, com a publicação desta velha fábula, ao nome de meu filho João Jorge, a melhor pessoa que eu conheço, quero acrescentar nesta página de dedicatória os de meu afilhado Nicolas Bay, dito Nikili e Niki, tão belo quanto inteligente, e os dos meus netos Bruno, Mariana, Maria João Pinóquio Leão e Cecília, que não a podem ainda ler e por isso mesmo; como não a podia ler João quando eu a escrevi.
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Fernanda Isabel Bitazi, São Paulo/, 26/08/2010
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